Clevane Pessoa,
para a linda tela de Nequitz Miguel, "Asas da Liberdade."
O coração fugira quase de si mesma.
Morara em muitas casas
que abriram a porta à sua beleza, à sua generosidade.
Foi usada, mal ouvida,enganada, incompreendida...
Muitas vezes, julgou-se querida, acreditou-se amada.
percorrera léguas de amargura,
enquanto diluia-se em lágrimas seu natural encanto.
Sozinha,embora acompanhada,
sentia que ele percorriam suas milhas de mulher.
dentro de si , guardara seu maior tesouro, jóia rara:
a dignidade de ser ela mesma, engastada na esperança
de um dia achar as melhores trilhas,
para não mais perder-se de sua alma,
para se encontrar.
Então, o útero, escrínio de seus desejos , criou a oportunidade:
foi-lhe aberta uma nova porta, quando soube da criança,
sementinha enfim plantada sem diluir-se em sangue.
Tudo nela renovou-se, a alegria brilhava em seus olhos,
os sonhos se multiplicavam, o corpo ficou forte e belo,
enquanto o ventre, em plenilúneo,
arredondava-se em esplêndido e longo luar.
Hoje, passeia com a filha amada, sem sequer lembrar -se
dos antigos amores tornados seus senhores
porque não tinha voz para protestar.
Agora canta, e as risadas cascateiam entre as duas,
a vozinha poderosa da pequena,
faz dueto com a sua, cristalina.
E brincam, correm, são felizes.
Nunca mais a jovem mulher sentiu solidão.
O que agora percebe, é que as asas da liberdade
nasceram-lhe , transparentes, mas muito fortes,
ladeando sua fortaleza, dando rumo ao seu coração.